4ª SESSÃO EXTRAORDINÁRIA DA 9ª SESSÃO LEGISLATIVA EXTRAORDINÁRIA DA IX LEGISLATURA.

 


Em 24 de dezembro de 1986.

Presidida pelos Srs. Brochado da Rocha - Presidente, Teresinha Chaise – 1ª Vice-Presidente e Gladis Mantelli – 1ª Secretária.

Secretariada pela Sra. Gladis Mantelli – 1ª Secretária.

Às 9h45min, o Sr. Brochado da Rocha assume a Presidência e solicita à Sra. 1ª Secretária que proceda à chamada nominal dos Srs. Vereadores para verificação de “quorum”.

Responderam os Srs. Adão Eliseu, André Forster, Antonio Hohlfeldt, Aranha Filho, Bernadete Vidal, Brochado da Rocha, Caio Lustosa, Cleom Guatimozim, Clóvis Brum, Elói Guimarães, Ennio Terra, Frederico Barbosa, Getúlio Brizola, Gladis Mantelli, Hermes Dutra, Isaac Ainhorn, Jaques Machado, Jorge Goularte, Jussara Cony, Lauro Hagemann, Luiz Braz, Mano José, Pedro Ruas, Raul Casa, Teresinha Chaise, Valdomiro Franco e Werner Becker.

 


Constatada a existência de “quorum”, passamos à

 

PAUTA - DISCUSSÃO PRELIMINAR

 

1ª SESSÃO

 

PROC. 2678 - PROJETO DE EMENDA À LEI ORGÂNICA N.º 61/86, do Executivo, que altera o artigo 32 e dá nova redação ao Capítulo IV do Titulo I da Lei Orgânica do Município.

 

PROC. 2679 - PROJETO DE LEI COMPLEMENTAR DO EXECUTIVO N.º 17/86, que cria o sistema de participação do povo no Governo Municipal e dá outras providências.

 

PROC. 2725 - PROJETO DE LEI DO EXECUTIVO N.º 88/86, que autoriza a subscrever ações em aumento de capital, da Companhia Caris Porto-Alegrense, autoriza a abertura de créditos adicionais e dá outras providências.

 

PROC. 2726 - PROJETO DE LEI DO EXECUTIVO N.º 89/86, que autoriza a abertura de crédito suplementar no valor de Cz$ 1.530.000,00 e dá outras providências.

 

3ª SESSÃO

 

PROC. 2680 - PROJETO DE LEI COMPLEMENTAR DO EXECUTIVO N.º 18/86, que modifica a Lei Complementar n.º 43, de 21 de julho de 1979, que institui o Primeiro Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano e dá outras providências.

 

PROC. 2681 - PROJETO DE LEI DO EXECUTIVO N.º 86/86, que estabelece o montante de índice construtivo alienável na forma da Lei Complementar, para o exercício de 1987, e o respectivo Plano de Distribuição.

 

PROC. 2682 - PROJETO DE LEI COMPLEMENTAR DO EXECUTIVO N.º 19/86, que institui o Fundo Municipal para o Desenvolvimento Urbano de Porto Alegre e dá outras providências.

 

A SRA. PRESIDENTE (Teresinha Chaise): Com a palavra, o Ver. Frederico Barbosa (desiste); Ver. Jorge Goularte, V. Ex.ª tem a palavra.

 

O SR. JORGE GOULARTE: Sra. Presidente e Srs. Vereadores, em primeiro lugar, gostaria de cumprimentar meus pares nesta véspera de Natal e, em especial, a Mesa feminina, por se tratar de um fato raro na Casa, Presidente e Secretária. Mas em Pauta, hoje, projeto que tenta criar o “vereador biônico” em Porto Alegre, os chamados “conselhões”. Parece-me que os nobres pares devem analisar muito detidamente o Projeto, porque, se formos analisar as funções desse chamado conselhão, teremos que nos perguntar o que estamos fazendo aqui, porque, se os conselhos podem tudo, sabem tudo, não precisam fazer campanha, não gastam um centavo e são indicados bionicamente pelo Prefeito Municipal, fica a pergunta no ar: o que vamos ficar fazendo aqui? Sabemos que uma campanha eleitoral é algo muito difícil. Não se tem certeza de uma eleição, quanto mais de uma reeleição, e agora o Prefeito quer criar uma Câmara paralela a esta, o que, a meu ver, esvazia o Parlamento e cria uma situação de constrangimento para os Vereadores. Por tudo isso, eu já me manifesto antecipadamente contrário a este Projeto.

 

O Sr. Aranha Filho: V. Ex.ª permite um aparte? (Assentimento do orador.) Eu resumo tudo isso da seguinte maneira: o Prefeito quer cumprir uma promessa de campanha nas costas da Câmara Municipal.

 

O SR. JORGE GOULARTE: E mais ainda, Ver. Aranha Filho, porque o povo pode estar no governo sem ser biônico, na Câmara. Há 214 anos que o povo está no governo através de seus Vereadores. Por isso é que existe a representação popular, voto secreto, voto direto. Ninguém aqui é biônico. Então, exatamente como os Senadores eleitos se manifestavam contra os Senadores biônicos indicados, nós também temos o direito de nos manifestarmos contra esses “vereadores biônicos”, porque assim o serão. Há líderes nos bairros? Há. Têm condições de liderar a comunidade? Sim. Então que se candidatem, que concorram a um pleito eletivo, que disputem uma cadeira nesta Casa. E, se vencerem, tudo bem. Isso é democracia. Agora, indicação biônica para cargo que é eminentemente eletivo me parece uma proposta extremamente equivocada, e eu espero, sinceramente, que os meus pares, analisando sinceramente este Projeto, cheguem à conclusão de que esta demagogia tem que parar por aqui. O povo está no Governo, Ver. Adão Eliseu. Os seus eleitores estão no Governo. Os meus também estão no Governo. São menos do que os de V. Ex.ª, mas estão no Governo. É necessário que esta Casa tenha uma função paralela com gente indicada bionicamente? Devemos considerar isso profundamente, analisar detidamente, porque não podemos embarcar numa canoa furada. Nós estaremos esvaziando a nossa própria missão. Não podemos criar, nesta Casa, uma Câmara paralela, “vereadores biônicos”. O Prefeito quer cumprir uma promessa de Governo, mas eu acho que ele está cumprindo. O povo está no Governo? Eu acho que sim. Alguns acham que não totalmente, mas está no Governo através do seu Executivo, que foi votado livremente, e do seu Legislativo. O povo está exercendo o Governo. Então, por tudo isso é que eu me manifesto contrário a este Processo e espero que a Câmara não aprove a sua autodissolução branca. Ver. Clóvis Brum, V. Ex.ª, que é um homem estudioso da matéria, se nós votarmos em conselheiros biônicos para atuarem paralelamente a esta Casa, nós estaremos eliminando a nossa função na Casa. Parece-me, então, que não há como ser aprovado um projeto nesse sentido. Por isso me manifesto contrário ao mesmo. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

A SRA. PRESIDENTE (Gladis Mantelli): Está com a palavra o Ver. Hermes Dutra em discussão de Pauta.

 

O SR. HERMES DUTRA: Sra. Presidente e Srs. Vereadores. O sistema democrático vigente nos países sob forma representativa de Governo pode e certamente tem os seus defeitos. Entretanto, tem se mostrado o sistema representativo ainda como a melhor forma de expressão popular. Ao longo do tempo, têm sido questionadas e levantadas algumas questões com relação a este problema da representação. De forma que, em muitos países, o voto não é obrigatório. Comparece à eleição, à urna quem assim o deseja. No Brasil, inclusive, há corrente - na qual eu até me filio - que defende que o voto não deve ser obrigatório, dentro da definição de direito da cidadania, isto é, eu quero ter o direito de não ir votar e o Estado deve me assegurar esse direito. Ora, o Projeto do Prefeito Alceu Collares, acho que mal-assombrado durante a campanha eleitoral por alguém que lhe disse que fossem criados conselhos populares, não sei inspirado em que regime e em que país, colocou-o em palpos de aranha com a vitória, porque deveria cumprir essa promessa. Após longos debates, chegou a um projeto, que encaminha a esta Casa, recheado de defeitos, recheado de indagações, recheado de questões, que passo a levantar pela primeira, a da não-obrigatoriedade do voto de quem elege esses representantes. Enquanto a Casa maior de Porto Alegre, a Câmara de Vereadores, tem os seus representantes votados num dia previamente determinado em que se realizam eleições para todas as Câmaras de Vereadores do País, com voto obrigatório, com eleição fiscalizada pela Justiça Eleitoral, o Sr. Prefeito Municipal pretende a criação de conselhos eleitos em zonas comunitárias, mas não diz por quem. Por exemplo, há um bairro em Porto Alegre que tem uma Associação de Moradores, pela qual eu tenho um grande respeito, mas que foi fundada por 23 moradores daquele bairro, num bairro com 18 mil moradores.

Então, a tese que há que se levantar aí é a seguinte: se vota quem quer nessas eleições, pode-se tirar a ilação que as gerais também deverão ser assim - vota quem quer. E a fiscalização dessas eleições, como vai-se processar? Essa inovação não será um entrave no sistema de representação que apesar de todos os defeitos, tem se mostrado razoavelmente eficiente? Acho, Sr. Presidente, Srs. Vereadores, que a questão, por uma visão de honestidade, deve ser levantada por outro prisma. Vamos questionar o sistema de representação que nós temos. Aí acho que se pode estabelecer um debate. Quem sabe, ao invés da Câmara de Vereadores, tenhamos nós Câmaras de Bairros, com o voto obrigatório para todos? Quem sabe, ao invés de termos 33 Vereadores em Porto Alegre, numa Câmara, poderíamos ter doze câmaras, representando doze zonas comunitárias - com setecentos vereadores, me socorre o Ver. Jorge Goularte? Ou, quem sabe, 96 minicâmaras na Cidade? A discussão deve ir ao âmago da questão. Desde já antecipo que ficarei na corrente que defenderá a existência de uma única Câmara, mas posso ser voto vencido ou pode a população entender, Ver. Jorge Goularte, que esta Casa não deva existir e deveremos respeitar a opinião da população. O que não posso aceitar é que um projeto desses, como disse, recheado de defeitos em termos operacionais – aliás, acho que a Assessoria do Sr. Prefeito tem que sofrer mudanças -, tente colocar uma cunha no sistema de representação sem discussão porque há o medo de entrarem no âmago da questão.

 

O Sr. Jorge Goularte: V. Ex.ª permite um aparte? (Assentimento do orador.) Há tempos havia sugerido inspetores de quarteirão. Quem sabe se agora o Prefeito não cria o vereador de quarteirão; aí dá uns 700 Vereadores, ou 1500, tudo biônico, indicado pela Prefeitura Municipal, numa eleição confusa, porque V. Ex.ª mesmo diz que não se sabe quem vai fiscalizar essa eleição. Será uma coisa livre e sem sentido, porque não há uma norma legal para isso. O negócio vai ser no tapa e na rasteira. Ou como vai ser escolhido o pretenso líder do bairro?

 

O Sr. Elói Guimarães: V. Ex.ª permite um aparte? (Assentimento do orador.) É preciso que se apreenda o conteúdo sociológico do Projeto.

 

O SR. HERMES DUTRA: Para se aprender são necessários professores, e professores bons, o que não é o caso.

 

O Sr. Elói Guimarães: É “apreenda” com dois “es”, de captar, e não de aprender. Esse é o sentido, o espírito e o conteúdo sociológico do Projeto. Se nós examinarmos hoje as cidades, basicamente as capitais, as grandes metrópoles, nós vamos ver que as manifestações sociais e populares se fragmentaram ao longo do tempo, exatamente o Projeto do Executivo visa a dar uma certa organicidade a essa manifestação popular no sentido de canalizá-la em busca da participação instrumentada do povo no Governo. Não há objetivo, nem poderia haver, de substituir as instituições pelo povo no Governo.

 

O SR. HERMES DUTRA: Eu posso, Ver. Elói Guimarães, não ter apreendido o conteúdo sociológico, mas sou obrigado a dizer que V. Ex.ª não leu o Projeto. V. Ex.ª apreendeu, mas não leu. Isso que V. Ex.ª disse não é o que está no Projeto.

 

O Sr. Frederico Barbosa: V. Ex.ª permite um aparte? (Assentimento do orador.) Eu me filio ao seu pronunciamento. Na verdade me parece, sem aprender ou apreender, mas entendo que o Prefeito Alceu Collares realiza mais uma adesão a tantos quantos estão por este Estado, por esta Capital e por este País a tentar desmerecer os Legislativos. Hoje pela amanhã, ainda ouvia alguns se manifestando pela imprensa falada a respeito das cascatas que partem de Brasília, passam por Porto Alegre e atingem o Interior. Nós já assistimos, semana passada, a Deputados Federais eleitos pregando a diminuição do número de Vereadores por falta de trabalho, publicamente, em colunas assinadas, e agora me parece que o Prefeito é mais um que está aderindo à faixa de que é melhor o Conselho do que a Câmara, e prova disso foi a Convocação, numa desconsideração clara no sentido de atirar ao Plenário uma série de projetos e dar entrevistas como se os projetos já estivessem aprovados.

 

O Sr. Caio Lustosa: V. Ex.ª permite um aparte? (Assentimento do orador.) O que nos espantou, no Projeto, é que chega ao cúmulo de que uma decisão fosse adotada pelo Conselho e não passasse pela Câmara, ou se passasse e fosse vetada pelo Prefeito, ou aprovada pelo Prefeito, seja qual fosse, depois de toda a tramitação a decisão iria para um funcionário de segundo ou terceiro escalão - diz o texto da Lei -, que homologaria ou não. Quer dizer: não só a Câmara está sendo descredenciada em suas prerrogativas, como também dependerá de funcionários de outros escalões homologarem uma decisão do próprio Prefeito. Jamais tinha visto uma quebra de hierarquia e respeito à vontade popular.

 

O SR. HERMES DUTRA: Sou grato a V. Ex.ª. O Projeto vai merecer uma avaliação profunda de todos nós. Na verdade, isso aqui, para mim, pelo menos, não representa o povo no Governo. Isso me representa mais uma ajeitada da companheirada. Sou grato.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

A SRA. PRESIDENTE: Próximo orador inscrito em Pauta é o Ver. Elói Guimarães, que tem a palavra.

 

O SR. ELÓI GUIMARÃES: Sra. Presidente e Srs. Vereadores, em Pauta vários projetos do interesse da Cidade, bem como o que autoriza subscrição à Companhia Carris Porto-Alegrense.

E eu aproveito, Sr. Presidente e Srs. Vereadores, para sustentar aqui a necessidade que tem o Município de Porto Alegre de ampliar a participação da Carris no sistema de transporte coletivo em Porto Alegre. Eu até diria, diante da greve, onde se vê em face de tremendas dificuldades, que o transporte coletivo em Porto Alegre deve ser estatizado. O transporte coletivo em Porto Alegre deve ser comandado, conduzido pela Companhia Carris. Então, a meu juízo, esta subscrição que pede o Prefeito deve ser atendida de pronto, pois em face dos acontecimentos, da greve, indica-nos e nos aponta que o transporte coletivo, a circulação de pessoas nas cidades é, talvez, a maior função que tem uma cidade. Não há maior função do Município senão a função de circulação e essa função desempenha o sistema de transporte coletivo de massa. Então, o que temos que fazer em Porto Alegre é buscar recursos do Governo Federal e fazer da Carris a única empresa a prestar transporte coletivo na Cidade. Aproveitaria a oportunidade da discussão da matéria, porque é pertinente, para pedir ao Sr. Prefeito que, em face da displicência dos senhores empresários do transporte coletivo, em face da falta de diligência dos transportadores do transporte coletivo em Porto Alegre, que o Prefeito Municipal examine, com seriedade, a cassação das permissões que eles têm para explorar o transporte coletivo em Porto Alegre. Este é o grande momento. O Ver. Antonio Hohlfeldt e eu tivemos um debate com o Presidente do Sindicato dos Motoristas, o companheiro Galo, na Rádio Bandeirantes, onde este admitiu, claramente, que os empresários estavam por trás do movimento. É o próprio Presidente do Sindicato dos Rodoviários que admite que os empresários, os donos das empresas, estavam por trás do movimento. Isso aí é razão, é fundamento, é motivo para que o poder permitente, no caso, a Prefeitura, casse as permissões para exploração do transporte coletivo em Porto Alegre. Este é um pedido que formulo ao Chefe do Executivo. E façamos, em definitivo, pela importância que um transporte representa para a Cidade, da Carris Porto-alegrense a empresa que ministrará transporte coletivo de massa em Porto Alegre. Esta seria a grande solução para a nossa Cidade, porque aí, Sr. Presidente, Srs. Vereadores, pela natureza que o transporte representa, pelo que ele significa na vida da Cidade, não estaríamos diante de situações de aprêmios como esta.

Portanto, fica aqui, aproveitando a discussão deste Projeto, onde o Prefeito pede autorização para subscrever ações da Carris, esta sugestão e este pedido para que o Prefeito Municipal examine, em face da falta de diligência, a irresponsabilidade dos senhores empresários, que o Prefeito Municipal examine as permissões e proceda na cassação e, a partir daí, se criem as condições para que a Capital do Estado do Rio Grande do Sul seja servida única e exclusivamente por uma empresa estatal, a Carris de Porto Alegre, que, a nível das dificuldades, está prestando serviço à população na data de hoje, tendo iniciado ontem, com uma contribuição, inclusive, da Brigada Militar, dos brigadianos.

Portanto, fica aqui este pedido, nesse sentido.

 

O Sr. Hermes Dutra: V. Ex.ª permite um aparte? (Assentimento do orador.) V. Ex.ª fala de um projeto que autoriza a subscrever ações de aumento de capital da Cia. Carris Porto-alegrense. Aproveita o gancho para discutir sobre a greve, problemas de transportes, etc. Veja V. Ex.ª - até diria que escolheu um mau momento - que neste momento, nós, V. Ex.ª, eu, seu vizinho, que somos contribuintes, estamos tapando um buraco da Carris, para usar a expressão popular. V. Ex.ª propõe que essa empresa pegue o transporte da Cidade. A PMPA vai quebrar, Ver. Elói Guimarães, pois se com 15% dos transportes a empresa já apresenta esse buraco, que anualmente é duas vezes ao ano, temos que votar projetos, e nunca nos negamos, pois isso não é do Dr. Collares; isso vem de anos para salvar a Carris. É uma temeridade. Protesto como contribuinte e não como Vereador.

 

O SR. ELÓI GUIMARÃES: Rebato o seu aparte e digo que esses recursos não são para tapar buracos, dando idéia de que buraco é má administração, má gestão. Quando se fala em buraco, se fala de má gestão. Antes pelo contrário, a Carris está tendo um excelente desempenho, não só do ponto de vista da prestação de serviços, como também do ponto de vista contábil. Como todos sabem, ela diminuiu o déficit que possuía. Basta consultar a sua contabilidade, que está à disposição dos Srs. Vereadores para fazerem a análise.

Então eu aproveito este momento, que é oportuno, quando se discute uma subscrição para a Carris Porto-alegrense, para propor que Porto Alegre passe a ser servida, ou melhor, que se passe a estudar e a discutir. Isso aqui não é novidade que eu estou a dizer. São teses sustentadas por inúmeros Vereadores, tais como Ver. Antonio Hohlfeldt, Ver. Lauro Hagemann, Ver. Caio Lustosa, Ver.ª Jussara Cony, enfim, o ex-Presidente da Casa, e, se não me falha a memória, a maioria dos Vereadores entende que o transporte coletivo, pela sua importância, representa a função mais importante da Cidade, pois é a função de circulação. Sem circulação não há prestação de trabalho, o operário não pode trabalhar e obter o seu salário. E o transporte é tão fundamental, que não há greve neste País se os transportes não aderirem, se continuar havendo a circulação de pessoas. E, se o transporte é fundamental, uma cidade como Porto Alegre não pode ficar entregue às mãos irresponsáveis de alguns empresários que aí estão, porque basta meia dúzia deles se reunirem para parar a Cidade. Então, é fundamental para a Cidade que o Poder Executivo e o Poder Legislativo tenham nas mãos as rédeas do transporte coletivo. E eu acho que a Câmara, pela representatividade que carrega e pela sua legitimidade, tem, a partir de agora, que começar a desenvolver profundamente este debate para que a administração de Porto Alegre tenha em suas mãos o transporte coletivo no seu total, evidentemente que o transporte coletivo de massa, por ônibus.

 

O Sr. André Forster: V. Ex.ª permite um aparte? (Assentimento do orador.) Eu concordo com V. Ex.ª. Nesse aspecto, a Câmara já foi testemunha, na administração passada, do que representou, no momento de conflito, com relação aos transportes, a falta de poder da SMT em relação aos empresários: a Cidade ficou à mercê dos empresários porque a SMT nunca assumiu as suas competências em relação à atuação no setor dos transportes. Mas acho, Ver. Elói Guimarães, que, neste momento, devemos também fazer a devida crítica à SMT hoje, que, até o momento, não tomou nenhuma iniciativa com relação às inúmeras irregularidades já apontadas, comprovadas no cálculo da tarifa. Se tivesse colocado à opinião pública que a tarifa está calculada com um valor superior ao que a população paga por irregularidades no cálculo, ela estaria respaldada pelo Legislativo, pela opinião pública, para colocar os empresários nos seus devidos lugares, mostrando à opinião pública que os empresários podem, tranqüilamente, pagar por aquilo que tiraram indevidamente dos usuários do transporte coletivo em Porto Alegre. Estamos esperando da SMT, até hoje, aquelas correções que não foram feitas e que poderiam, muito bem, colocar a SMT em posição digna diante da opinião pública, corrigindo as distorções das tarifas pelas irregularidades ali contidas.

 

O SR. ELÓI GUIMARÃES: Sou grato a V. Ex.ª. Então, vejam ao que é submetida uma administração e uma Cidade na mão de meia-dúzia de empresários que bloqueiam todo um processo produtivo de circulação de pessoas em busca, muitas vezes, de lucro e quase sempre em nome de lucros fáceis ganhos ao longo dos tempos. O debate é rico e fecundo e temos de desenvolvê-lo permanentemente nesta Cidade. Uma coisa está comprovada: o transporte coletivo, pela sua importância, pelo que significa à importância de uma cidade, tem de estar sob o comando direto do poder político do Município. Nesse sentido estou formulando um pedido ao Sr. Prefeito Municipal para que, diante deste quadro onde os empresários são os responsáveis pela falência na prestação de transporte coletivo em Porto Alegre, examine as permissões e realize as cassações e que a partir daí busquemos - a Casa, o Prefeito e a Cidade - recursos para transformar a Carris na empresa monopolizadora do transporte coletivo em Porto Alegre. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE (Brochado da Rocha): Em Comunicação de Líder, o Ver. Antonio Hohlfeldt, pelo PT.

 

O SR. ANTONIO HOHLFELDT: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. Acho que a Câmara de Vereadores, apesar dos diálogos paralelos ao discurso do Ver. Elói Guimarães, ouviu, hoje, um discurso muito importante daquele Vereador. E mesmo que, em relação a minha manifestação de ontem, tenham os meios de comunicação feito uma verdadeira confusão no noticiário de hoje, misturando o voto do Ver. Pedro Ruas, do Ver. Ignácio Neis, com os nossos, de oposição, interpretando de má-fé as discussões desta Casa, como um determinado jornal fez, noticiando errado em televisão, no jornal das 23 horas e por aí afora, não obstante isso, acho, Ver. Elói Guimarães, sem qualquer vaidade, que começamos a discutir, agora, sim, uma coisa muito séria nesta Casa. Eu me permito relembrar a minha posição de ontem quando pedi a intervenção nas empresas, ocasião em que pedi a utilização da Lei de Greve em seu art. 24, que dá o poder de perícia, ou o que eu pedi originalmente ainda no diálogo com o Sr. Prefeito Municipal - uma auditoria no mínimo de 30 dias por uma empresa de auditoria, isenta, objetiva, para que se tenha um retrato fiel do que é cada empresa de ônibus desta Cidade. E ouço aqui hoje, muito satisfeito, Ver. Elói Guimarães, o seu discurso. Não sei se é posição da sua Bancada ou mesmo do Executivo, mas me basta ouvir de um Vereador, que eu respeito muito e já respeitava antes de entrar para esta Casa, e um Vereador de situação, adotar a tese de vários de nós, de que é necessário reformular definitivamente o sistema das permissões em Porto Alegre. Nós temos algumas discordâncias, Ver. Elói Guimarães, passageiras, provavelmente. E discordâncias são menos nossas, pessoais, ou ideológicas ou partidárias, mas diferenças que vêm das diferentes teses jurídicas que eventualmente desposamos. Eu, pessoalmente, por exemplo, sou contra a encampação, porque creio que não cabe a encampação. Identifico-me com esta tese. Acho que caberia a tomada, pura e simples, do serviço e das instalações já remuneradas, e para isso nós temos os 12%, antigos 13,2% da remuneração de capital. Discutíamos, inclusive, Vereador, nós dois, naquele belo programa da Rádio Bandeirantes. V. Ex.ª eventualmente, não radicalmente, entende que até se pode chegar à encampação. Mas acho que nós dois nos identificamos em dois pontos hoje, não só mais em um: a necessidade de que a Carris, a exemplo do que fez a Prefeitura do Rio de Janeiro, assuma, de uma vez por todas, o mínimo de 30% das linhas de Porto Alegre. E eu não duvido, Ver. Elói, e presto aqui, inclusive, o meu respeito à administração atual da Carris... Eu estive, casualmente, colocando o meu arquivo de recortes em dia e li uma entrevista do Diretor da Carris, no início do ano, onde ele dizia que o grande desafio era colocar em dia a situação financeira da empresa e começar a renovação da frota, e já falava em 70 ônibus. E vejo, nos últimos dias, que se tenta, ainda que com repasses do Poder Executivo... Mas se tivemos receita a mais, por que não repassá-la para a Carris, que é um setor básico da administração, e se inicia a renovação da frota, a se comprar ônibus?

Eu lembrava ontem, naquele nosso encontro da Rádio Bandeirantes, que o Projeto de Lei que instituiu o PRODESCOL, que dá privilégios fantásticos a fundo perdido aos senhores empresários, tem um artigo específico, claro - se não me engano, é o art. 7º -, que não isenta os empresários de renovarem só porque não ganham dinheiro a fundo perdido do PRODESCOL. A renovação de frota permanece como obrigação primária do empresário do transporte coletivo, mas o que nós temos visto é uma pressão de má fé: não tem PRODESCOL, não aumenta a tarifa, não renova a frota. E estamos chegando, realmente, a uma frota de caco velho nesta Cidade - que eu diria propositalmente -, quando os senhores empresários, ao longo desses 20 anos, desviaram dinheiro das empresas para aplicações financeiras em outras áreas. Deixaram de aplicar no seu negócio, quando não retiraram vultosos valores a título de pró-labore, descapitalizando as suas empresas. Então, Ver. Elói Guimarães, eu, desde ontem, vinha disposto não a criticar o Prefeito, mas a avançar na tese da necessidade da estatização pelo menos de um setor, e a auditoria apontaria que empresas: aquelas que estão mal-administradas, aquelas que não têm condições de atingir, na qualidade, a prestação dos serviços. Então, acho, Vereador, que ontem eu, humildemente... O próprio Ver. Werner Becker não se encontra aqui, mas defendeu esta tese junto ao Prefeito; o Ver. Lauro Hagemann, que tinha encampado essa tese, e agora V. Ex.ª. Acho que começamos a amadurecer discussão, e eu espero, Vereador, que também o Executivo amadureça essa questão. E lembro que, no ano passado, eu apresentei um Projeto de Lei, infelizmente derrotado neste Plenário, que previa o final das permissões até julho deste ano e, a partir daí, a abertura de novas licitações. Infelizmente o meu Projeto não foi aprovado. Mas quem sabe lá se até o final da legislatura nós não teremos a oportunidade de começarmos a organizar de uma vez por todas o transporte coletivo em Porto Alegre? Sobretudo, quero dizer aos senhores empresários que, ao contrário do que eles pensam, eles não são donos das suas empresas, eles apenas têm uma precária permissão para explorar um serviço que é, antes de tudo, de utilidade pública.

 

O Sr. Aranha Filho: V. Ex.ª permite um aparte? (Assentimento do orador.) Sr. Presidente, gostaria apenas de um esclarecimento: escutando uma rádio hoje pela manhã, fiquei sabendo que deveria entrar na Casa, na Mesa, um substitutivo ao Projeto que prevê aumento de impostos. A minha pergunta é se chegou até V. Ex.ª esse Substitutivo.

 

O SR. PRESIDENTE: A Mesa, assim que obtiver informações mais seguras, passará a informação a V. Ex.ª, pois, segundo consta, está na CJR.

 

O SR. ANDRÉ FORSTER (Questão de Ordem): Eu faço esta Questão de Ordem para solicitar seja ouvida a Comissão de Justiça quanto à interpretação do RI em seu art. 125, inciso I, relativamente ao Processo 2679 do Executivo, que está em Pauta neste momento, em relação à posição deste Processo, em relação aos Processos 1614 e 2112, que tramitam neste Legislativo. Eu tenho, pois, que a Comissão de Justiça nos deu um parecer sobre se se tratam de processos de natureza igual e, portanto, as devidas conseqüências da situação.

 

O SR. PRESIDENTE: Ver. André Forster, os projetos citados se referem a um que estava em Sessão Ordinária e pelo final do ano legislativo foi arquivado; o outro veio através da uma convocação extraordinária. No entanto, a Mesa, usando da faculdade de responder Questões de Ordem e em grau recursal tão-somente enviar à Comissão de Justiça, pela relevância do assunto, pela complexidade do assunto e pela legitimidade da Questão de Ordem, abre mão da prerrogativa de, em primeira instância, ou em primeiro grau, dirimir as Questões de Ordem e enviará à Comissão de Justiça, como V. Ex.ª está requerendo.

 

O SR. ANDRÉ FORSTER: Eu agradeço a V. Ex.ª

 

O SR. PRESIDENTE: Nada mais havendo a tratar...

 

O SR. CLÓVIS BRUM: Solicito uma Comunicação de Liderança.

 

O SR. PRESIDENTE: A Mesa solicita e entrará em contato com os Srs. Líderes para que as Comunicações de Liderança sejam requeridas de uma forma que não crie um constrangimento para quem faz e para a Mesa que está acabando a Sessão.

Com a palavra, o Ver. Clóvis Brum pelo PMDB.

 

O SR. CLÓVIS BRUM: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. Formulo uma Questão de Ordem à Presidência e solicito que desmarque o meu tempo, porque ainda não comecei a falar.

 

O SR. PRESIDENTE: A Mesa ouve V. Ex.ª.

 

O SR. CLÓVIS BRUM (Questão de Ordem): Apenas para apresentar à Mesa, nesta Questão de Ordem, o inconformismo desta Liderança com a observação da Mesa formulada há pouco, porque é aguardado às Lideranças o momento que melhor for, do ponto de vista tático, para a ocupação do tempo destinado à Liderança. As Lideranças, pela própria experiência do Presidente da Casa, sabem que se aguarda o momento estratégico para ser usado esse espaço. Por isso, no momento em que este Vereador ocupava a tribuna, recebeu a observação, que evidentemente não foi de maneira pessoal, mas entendo que, em nome das outras Lideranças, é necessário resguardar o direito.

 

O SR. PRESIDENTE: Ver. Clóvis Brum, endosso plenamente o que V. Ex.ª acaba de dizer. Exatamente pelos motivos que V. Ex.ª está a dizer e por ter, antes de tudo, uma consideração de achar que as Lideranças da Casa são importantes, ou o fato mais importante da Casa, e a Mesa deve trabalhar em função dela, a Mesa quer fazer um ajuste com as Lideranças, porque, sobretudo, V. Ex.ª é testemunha de que o pedido de Liderança não pode colidir com o encerramento da Sessão. E é esse ajuste que a Mesa deseja fazer com as Lideranças, não com o sentido de diminuí-las, mas de engrandecê-las, sem colocar em constrangimento a Mesa, que jamais negaria um pedido de Liderança.

 

O SR. CLÓVIS BRUM: Sou grato a V. Ex.ª. Particularmente, em meu nome pessoal, desejo manifestar uma posição relativa ao Imposto Predial de Porto Alegre. Nós temos consciência de que há algumas distorções no recolhimento desse imposto. Nós sabemos disso. Entretanto, também achamos que, para corrigir essas distorções, não é necessário jogar um aumento na já pesada carga tributária da classe média porto-alegrense. Eu perguntaria: como se aumentar o Imposto Predial, ainda que pouco - mas vai ser aumentado -, no Partenon, Jardim Botânico, na Vila Bom Jesus, no Alto Petrópolis, na Vila Jardim, Chácara das Pedras, Bairro Ipiranga, Santa Maria Goreti, Vila Floresta, bairros em que os alagamentos são constantes, a destruição dos poucos quilômetros de ruas calçadas é uma realidade, tendo as piores condições de trafegabilidade das ruas não calçadas, algumas sem condições de trânsito? Como se pode aumentar o Imposto Predial para essas populações que estão vivendo nas piores condições desta Cidade e que vêm pagando os seus impostos há mais de 50 anos? Se fosse em outro país, e não o Brasil, a população estaria recebendo a restituição do imposto pago, porque para cada imposto se prevê uma prestação de serviço. Esse imposto está sendo cobrado, nesta Cidade, dessas populações há muitos anos, desses bairros, e qual o serviço que essa população está recebendo? Nenhum benefício, nenhum serviço. A retirada do lixo? A população paga a Taxa do Lixo. E o esgoto, que não existe? A população paga taxa de esgoto. A iluminação pública, precária, em muitas ruas inexistente: é paga taxa de iluminação pública. A água - é paga taxa d’água. O que mais a Prefeitura faz em benefício da população? Só destruir as ruas, exatamente com um projeto nocivo aos interesses da Cidade, que é o malfadado Projeto Rio Guaíba. A minha posição é contrária ao aumento desse imposto e tenho certeza de que esse imposto não irá receber a aprovação da Casa. Poderia dar a posição oficial da Bancada, que antecede a minha, Entretanto, a posição da Bancada será objeto de uma nota oficial da Bancada, porque também concordamos com colocações levantadas aqui pelo Ver. Caio Lustosa, ainda que sejam algumas leis que vão emendar, sim, o Código Tributário, mas são leis tributárias. O povo tem que saber, tem que participar daquilo que ele vai continuar pagando a mais do que já paga. Nós estamos vivendo outra época. Nós precisamos dialogar mais com o povo. Não pode o Prefeito enviar para esta Casa projetos em convocação extraordinária aumentando a carga tributária.

Partenon, Alto Petrópolis, Bom Jesus, Vila Jardim e tantos outros bairros não podem continuar pagando o imposto. O que o Prefeito tinha que mandar para cá era uma isenção por 20 ou 30 anos desse imposto para esses bairros que estão pagando o imposto e não recebem nenhuma prestação de serviço. O serviço que recebem pagam: taxa de água, taxa de lixo, taxa de esgoto, taxa de iluminação pública, que são pagas separadamente do Imposto Predial. Por isso, sou contrário ao aumento desses impostos num momento difícil, de maneira açodada, sem discutir com o povo, sem se examinar cuidadosamente a carga tributária já ultrapassada que está nos ombros da classe média brasileira.

Sra. Presidente, eu concluo dizendo que espero que o Prefeito até retire esses projetos que falam sobre tributação, enviando para esta Casa uma reforma tributária no ano que vem. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

A SRA. PRESIDENTE (Gladis Mantelli): Liderança com o PDT. Com a palavra, o Ver. Cleom Guatimozim.

 

O SR. CLEOM GUATIMOZIM: Sra. Presidente e Srs. Vereadores, me surpreende a declaração do Líder do PMDB dizendo que ao imposto corresponde um serviço prestado. Nem historicamente, Vereador. O imposto nasceu exatamente quando os exércitos romanos cobravam para se manterem. Não davam nada em troca. Isso nasceu há, mais ou menos, 2 mil anos. De lá para cá, nunca, nem de direito, nem de fato, o imposto correspondeu a qualquer serviço prestado. O Código Tributário nacional é claro, é objetivo, é direto: o imposto corresponde apenas à manutenção da máquina administrativa em qualquer governo e em qualquer parte do mundo. Então, Srs. Vereadores, esperar que o imposto dê direito a obras!? É claro, esse é o pensamento da população. Agora, o Vereador, que conhece a lei, não pode esperar isso aí. O imposto é para manter a máquina administrativa, assim como vai fazer o Sr. Pedro Simon agora, que já está chorando antes de assumir o Governo. Já está dizendo que está endividado. Ele sabia que estava endividado, ele sabia que o pagamento do funcionalismo é muito grande.

Então, eu me surpreendo que, para se contrapor ao aumento de impostos, se venha dizer que com o imposto não se faz nada. É a primeira vez que o Governo Alceu Collares está encaminhando a esta Casa uma reforma tributária, porque está instalado a menos de um ano na Cidade.

Então, Srs. Vereadores, os motivos alegados para se votar contra a reforma tributária podem ser muitos, mas tem que ter imaginação para colocar atrás de um motivo partidário, à testa, tem que ter imaginação, não dizer que o imposto não faz nada, que a rua tal está esburacada. A rua do Ver. Clóvis Brum está esburacada porque ali tem muito trânsito, muito progresso. Buraco é sinal de progresso. Ora, uma rua bonitinha, sem trânsito, sem progresso, sem nada!? Veja lá o Bairro do Ver. Jacão, no 4º Distrito, um bairro da Cidade. Os buracos, ali, são resultados da grande movimentação de caminhões pesados, de carros, que trazem a produção. Exportam e trazem o progresso.

Então, esse motivo alegado pela Bancada, pelo Líder do PMDB, é muito fraco. Eu até estou certo de que, depois de uma reunião de Bancada, eles virão com um outro motivo político, partidário, mas nunca esse de que não está prevista nenhuma obra pelo imposto. O Código Tributário nacional... Quando se faz uma obra numa rua em que as residências ficam valorizadas, em que há um enriquecimento ilícito dos proprietários, aí, sim, é uma cobrança de imposto. No Jardim Botânico, a começar pelo apartamento do Ver. Jorge Goularte, que subiu só 35%, e o valor venal é muito bom - o aumento de imposto é de 35%. Desta tribuna, os Vereadores que pretendem me colocar em choque com a minha região dizem que o imposto lá é alto. Não é. É apenas 25% e é muito inferior à inflação acumulada do Governo Sarney, do cruzado furado. Eles falam em disparar o gatilho, mas não será para disparar, pois daí estarão todos mortos. Essa é uma reforma tributária que isenta 112 mil pessoas que não podem pagar, mas aumenta um pouco mais nas zonas classe “A”. Vejam que prédios com valor venal altíssimo têm que pagar um pouco mais. Vejam, por exemplo: as residências da Vila São José, na encosta do morro, pagaram igual à zona classe “A” seria uma injustiça, e nós queremos justiça social. Nós queremos isentar 112 mil contribuintes para que não paguem nada ao Município, que fiquem isentos. Essa é uma forma de distribuição de renda que eu estou certo que a Bancada do PMDB, depois de repensar o problema, dará alguns votos favoráveis pela alta justiça da reforma. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

O SR. PRESIDENTE: Em tempo de Liderança, a palavra com o Ver. Hermes Dutra.

 

O SR. HERMES DUTRA: Sr.ª Presidente e Srs. Vereadores. Eu quero fazer uma declaração pública quanto a esta questão dos impostos e sobretudo a forma como a Lei determina o seu reajustamento. Acho que no ano que vem esta Casa terá que analisar mais detidamente esta questão. Sabem V. Ex.ª que um dos fatores mais importantes na equação do valor venal é o metro quadrado da construção.

Ora, o metro quadrado da construção subiu a valores estratosféricos nos últimos anos enquanto que os salários ficaram na planície rasa com uma leve ondulação, de vez em quando.

Então, não me parece ser justo, e aqui eu até vou isentar o PDT, porque isto é da lei antiga, que se coloque uma variável com peso tão importante quanto o metro quadrado da construção. Porque, senão, os tecnocratas que assumem o Governo já vêm cheios de razão dizendo que a casa dele valorizou. Ora, eu tenho dito e repito que a casa de um cidadão, que ele tem para morar, não é uma casa para ele comerciar, para ele vender. Não se pode calcá-lo no imposto com a alegação de que a casa dele valorizou 2.000, 3.000%. Mas, afinal de contas, não é para ele viver com a renda da casa, é o teto para lhe proteger da chuva, do sol, para agasalhar a sua família. Então, não posso aceitar esta colocação. É claro que todos devem pagar impostos, até para pagar as inexistentes obras da atual Administração. Sim, porque segundo o Ver. Cleom Guatimozim, imposto não é para pagar obras, e eu não sei onde é que vai o dinheiro que nós pagamos mensalmente de impostos. Então não se pode admitir passivamente uma explicação eminentemente tecnocrática de que o imóvel valorizou. E outra coisa que tem que ser colocada, é que o Município não é uma linha isolada; e o Município, na vã tentativa de fazer justiça tributária, termina facilitando ainda mais a concentração de renda, quando sabemos que Porto Alegre tem pessoas que possuem cem, duzentos imóveis, e que estão rindo com esse aumento de impostos. Estas é que deveriam pagar mais, Ver. Elói Guimarães. Mas estas vão repassar para o coitado e desprotegido inquilino, o que não é atribuição da esfera Municipal. Então não se pode querer resolver aplicar a administração “o socialismo moreno” no Município de Porto Alegre, quando, na verdade, se estará enriquecendo o bolso dos grandes proprietários da Cidade. Nós tentamos, os membros da Comissão, fazer um trabalho sério, e se tempo tivéssemos, aprofundaríamos bastante, até tentando resolver esse problema, buscando uma taxação à propriedade. Mas, lamentavelmente, como o Prefeito mandou o Projeto na undécima hora, embora este Projeto estivesse pronto desde o mês de outubro, veio à undécima hora para esta Casa e querem que nós, num espaço tão curo de tempo, possamos tomar decisões que irão implicar no bolso da coletividade e vão fazer jorrar dinheiro nos cofres do Dr. Collares para que a administração municipal, segundo o Ver. Cleom Guatimozim, não faça obras porque esse dinheiro não irá para obras. Na verdade, essas questões devem ser levantadas e, de parte da Bancada do PDS, estamos dispostos a buscar uma saída alternativa, mas só buscaremos se todas as Bancadas da Casa participarem. Nós não iremos servir de instrumento para dar recursos ao Sr. Prefeito Municipal e sermos taxados de aumentadores de imposto. É bom deixar clara a posição da Bancada; estamos dispostos a buscar uma saída intermediária, não isso que o Município está querendo, ou seja, dobrar a arrecadação de impostos. Todavia, só concordaremos se todas as Bancadas da Casa se integrarem. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

A SRA. PRESIDENTE (Gladis Mantelli): Está com a palavra o Ver. Frederico Barbosa, em tempo de Liderança, pelo PFL.

 

O SR. FREDERICO BARBOSA: Sra. Presidente e Srs. Vereadores. A Bancada do PFL teria, ainda na manhã de hoje, algumas considerações e algumas solicitações a fazer. Mas deseja reservar esta comunicação de liderança para, nos minutos finais da Sessão de véspera de Natal, cumprimentar e abraçar a todos, à Mesa, a todos os componentes da Bancada do PDT, do PMDB, ao representante do PCB, ao Vereador independente, ao representante do PT e aos do PDS no sentido de que todos nós desejamos que o espírito de Natal, o simbolismo desta data de 24 para 25 de dezembro, seja estendido certamente para todos os dias no sentido de que desejamos ter e manter coerência no nosso trabalho e dedicação a favor da população de Porto Alegre. Desejamos abraçar os funcionários da Casa, desejamos nos congratular com o espírito natalino; desejamos nos congratular com a imprensa de Porto Alegre e com todos que estão unidos física ou espiritualmente nesta Casa no sentido de que as divergências acontecidas dia a dia, hora a hora, inerentes ao mandato popular que nos foi conferido, sejam diferenças que se localizem estritamente a nível das idéias e que, além de tudo, nós possamos nos unir pessoalmente para defendermos o mandato que nos foi conferido pelo povo e defendermos, acima de tudo, a instituição Câmara Municipal. Este é o nosso desejo de que do alto sejamos abençoados, no sentido de que tenhamos forças, saúde, condições de trabalho para, unidos, como disse e repito, defendermos a instituição para a qual chegamos, via voto popular e abraçados, defendermos também daqueles que acham que esta Casa não é uma Casa de trabalho, dedicação e luta. Assim, a bancada do PFL deseja a todos um Feliz Natal e que os próximos dias sejam marcados por uma união e que as lutas, as discussões e as idéias sejam defendidas por todos, mas que, acima de tudo, surja mais e mais uma união de todos os 33 Vereadores em defesa dos interesses da Cidade de Porto Alegre. Era essa a intenção da bancada do PFL nestes últimos momentos de Sessão na véspera do Natal de 1986: que o simbolismo desta data seja estendido dia a dia, hora a hora. É o abraço, o desejo da Bancada do PFL com todos que aqui estão e com todos que cercam a Câmara de Vereadores por laços afetivos ou laços funcionais. Muito obrigado.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

A SRA. PRESIDENTE: Liderança com o PSB. Com a palavra, o Ver. Werner Becker, por cinco minutos.

 

O SR. WERNER BECKER: Sra. Presidente, Srs. Vereadores e Srs. Funcionários da Casa. Sei que o motivo da Convocação Extraordinária é a enxurrada de Projetos de Lei que foram mandados a esta Casa, mas esta Casa não pode esquecer a greve nos transportes coletivos, que, por sinal, quanto às previsões do Sr. Prefeito, está esmorecendo dia a dia. Com todo o respeito aos colegas jornalistas de “Zero Hora”, eu queria fazer uma retificação na manchete de hoje, que diz: “A Prefeitura garante os ônibus na rua.” Não é verdade. A população garantiu os ônibus na rua, e, quando falo em população, falo na Câmara de Vereadores de Porto Alegre, que apresentou várias sugestões ao Sr. Prefeito, recusadas naquela noite, mas que a pressão social da Cidade obrigou a aceitar. Falo, inclusive, de um outro segmento da sociedade; falo, inclusive, do Governo Estadual; falo da Brigada Militar e falo do Exército Nacional, que, para espanto meu, fui acusado ontem por um Vereador do PDT de estar querendo pôr o Exército para a rua. Evidente que quero o Exército na rua, a Brigada na rua, ao lado do povo, que essa é a função constitucional, Ver. Adão Eliseu, do Exército Nacional e da Brigada Militar. Faço este pronunciamento para justificar essa manchete. Foi a Cidade de Porto Alegre que abortou o nocaute dos empresários, e quero aqui, como munícipe, manifestar os meus agradecimentos. E acho que devemos formalizar depois, de forma mais solene, a participação, neste momento, da Brigada Militar e do Exército Nacional na Cidade, ao lado do povo. Nós queremos o Exército e a Brigada na rua, ao lado do povo, cumprindo as suas determinações funcionais, e não as extrapolando, como era há 20 anos. Sou grato.

 

(Não revisto pelo orador.)

 

A SRA. PRESIDENTE: Nada mais havendo a tratar, declaro encerrados os trabalhos e convoco os Srs. Vereadores para a 5ª Sessão Extraordinária a seguir.

 

(Levanta-se a Sessão às 11h14min.)

 

Sala das Sessões do Palácio Aloísio Filho, 24 de dezembro de 1986.

 

* * * * *